Fonte: http://www.otaodoconsumo.com.br/
Substancia usada na fabricação do plástico que envolve produtos é responsável por diarreia, vômito e o recolhimento de 28 milhões de caixas de sucrilhos.
Quando a Kellogg’s, gigante mundial na fabricação e comercialização de produtos alimentares, retirou 28 milhões de caixas de cereais das lojas dos Estados Unidos, no mês passado, a empresa só declarou que “um cheiro e um gosto estranhos” vindos da embalagem estavam causando náusea e diarréia nos consumidores. Mas nesta segunda-feira descobriu-se que o culpado pelo recall é um químico que tem aparecido bastante nas últimas semanas em notícias sobre o Golfo do México: os hidrocarbonetos, um subproduto do petróleo, presente no plástico da embalagem. A revelação foi feita pelo grupo ambiental Environmental Working Group. Segundo o EWG, a utilização de hidrocarboneto nas embalagens, químico que ainda não foi avaliado com profundidade, reforça a necessidade de uma reforma na segurança alimentar. “Existem milhares de químicos que podem migrar das embalagens e contaminar os alimentos”, disse Jane Houlihan, vice-presidente de pesquisa do EWG. A informação foi confirmada pela Kellogg’s em e-mail enviado pelo porta voz da empresa, J. Adaire Putnam. De acordo com Putnam, a empresa consultou toxicologistas químicos independentes antes de divulgar que “níveis elevados de hidrocarbonetos, incluindo os metilnaftalenos,” foram a causa do cheiro e do sabor identificados no cereal.
Um amplo projeto de lei sobre a segurança alimentar foi aprovado ano passado na assembleia de deputados federais no ano passado. O progresso da lei, que ainda depende de aprovação no senado, parecia destinada a uma aprovação rápida, mas se tornou lento quando a senadora Dianne Feinstein (democrata da Califórnia), anunciou que incluiria uma emenda proibindo o uso de bisfenol-A em embalagens de alimentos. O bisfenol-A é um químico encontrado no plástico e seu uso está associado a doenças como câncer e diabetes. A indústria química e outros grupos protestam contra a emenda.
O jogo de interesses é grande e consumidores e grupos de defesa do consumidor lutam contra os milhões de dólares que estão sendo investidos no lobby promovido por empresas alimentares e químicas. Na Califórnia, onde uma lei similar está a espera da aprovação do governador, empresas químicas e fabricantes de alimentos gastaram mais de 5 milhões de dólares na não aprovação da lei que proíbe o bisfenol A em produtos infantis para crianças de até 3 anos.
Se a lei for aprovada na íntegra, recalls como o feito pela Kellogs se tornarão obrigatórios nos EUA. De acordo com Sarah Klein, advogada do Centro de Ciências para o Interesse Público (Center for Science in the Public Interest), o recall mandatório oferecerá aos consumidores maior proteção no caso de embalagens que apresentam riscos à saúde. No entanto, diz ela, em casos como o da Kellogg’s é preciso não só recall. “O FDA precisa se aprofundar no estudo das embalagens alimentares pois elas estão sendo identificadas como a causadora de problemas de saúde.”
No e-mail enviado à imprensa, o porta voz da Kellogg’s afirma que embalagens semelhantes às dos sucrilhos são normalmente usadas em queijos, frutas e vegetais e aprovadas pelo FDA. “Nós verificamos que a quantidade de hidrocarbonetos encontrada não é considerada perigosa para a saúde, mas estamos trabalhando com nossos fornecedores para evitar que isso ocorra novamente.”
Putnam não quis dizer o nome de outros hidrocarbonetos presentes nas caixas de cereais e também preferiu não confirmar se a empresa apoia o projeto de lei sobre segurança alimentar.Scott Openshaw, um porta-voz da Associação de Produtores de Alimentos Vendidos em Supermercados, não quis comentar sobre o caso específico da Kellogg’s, mas afirmou que a indústria alimentar apoia o projeto de lei. “Nós levamos muito a sério essa responsabilidade,” disse Openshaw em um e-mail. “As empresas de alimentos e bebidas estão apoiando regulamentações mais rígidas para garantir que as embalagens sejam mais seguras.”
Em seu relatório, o grupo EWG destacou que tanto a Environmental Protection Agency (EPA), como a Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention) citaram falta de dados em relação a possíveis riscos carcinogênicos dos hidrocarbonetos.
O Grupo EWG também destacou o contraste entre a divulgação da Kellogg’s que afirmava que a substância que causou o recall é frequentemente encontrada em embalagens alimentares e uma conclusão da ATSDR, que afirmava que “consumidores provavelmente não estão expostos ao metilnaftaleno através de embalagens alimentares”.
O grupo pediu que a Kellogg’s divulgue com urgência o local onde testes com as caixas de cereais foram realizados e recomendou regras mais rígidas na segurança alimentar. A congressista democrata Rosa DeLauro, de Connecticut, comentou o caso da Kellogg’s e o relacionou ao projeto de lei. “Quando alimentos que são tão populares entre crianças estão sendo retirados de prateleiras em grandes volumes por apresentarem riscos à saúde, fica claro que nosso sistema de segurança alimentar não está funcionando.”
Notícia originalmente publicada no Nerm York Times. Texto de Elana Schor em 13 de julho de 2010.
Fonte complementar: The San Francisco Chronicle – 01/07/2010 (Califórnia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário