quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Fitoterapia e Comporvação Cientifica

Recentemente veículos de comunicação passaram a explorar com exaustão alguns pontos negativos em relação à segurança e eficácia das plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos, mais especificamente por intermédio do famoso médico Drauzio Varella.


A comunidade, científica ou não, ficou surpresa com o enfoque principal dado às matérias, com várias demonstrações de charlatanismo, despreparo e falta de profissionalismo de alguns “profissionais” da área da saúde em geral.

O que impressiona, especialmente àqueles que têm se dedicado a estudar o potencial terapêutico da plantas e toda a cadeia de produção de fitoterápicos (químicos, farmacêuticos, médicos, agrônomos, farmacólogos, etc.), não são os exemplos ilustrados.

A surpresa é a indução da idéia de que os fitoterápicos realmente não funcionam, colocando na vala comum charlatões e os incontáveis e incansáveis cientistas que trabalham arduamente na área de produtos naturais bioativos, comprovando os promissores e relevantes resultados de algumas plantas e seus preparados fitoterápicos e publicando artigos em periódicos especializados de alto impacto.

A falta de ética, a desonestidade, o charlatanismo e a adulteração de produtos, infelizmente existem em praticamente todas as áreas. O que precisa ficar claro, é que a cada ano a fitoterapia ganha novos adeptos, fato relacionado a vários fatores, mas, fundamentalmente, devido à ciência comprovar a eficácia de preparações vegetais em estudos experimentais pré-clínicos (estudos em animais) e clínicos (estudos em seres humanos).

A importância das plantas medicinais como fonte de medicamentos se dá, não apenas, devido às preparações fitoterápicas, mas especialmente, devido a muitas dessas plantas gerarem moléculas que são utilizadas na forma pura (fitofármaco) ou como modelos (protótipos) para a síntese de novos compostos químicos.

Estes compostos (derivados ou análogos das moléculas naturais), por sua vez, tornam-se fármacos enriquecendo ainda mais o arsenal terapêutico disponível atualmente. E em alguns casos, como no tratamento do câncer, por exemplo, respondem por mais de 50% dos medicamentos atualmente disponíveis.

O desenvolvimento de novos e eficazes fitoterápicos genuinamente nacionais tem estimulado e impulsionado a consolidação de grupos de pesquisa nesta área e “acendido” uma luz junto à indústria farmacêutica nacional, no sentido de melhor aproveitar a competência estabelecida no país e a riquíssima flora, para o desenvolvimento de novos, seguros e eficazes fitoterápicos ou fitofármacos.

O 5º Simpósio Iberoamericano de Plantas Medicinais (V SIPM), realizado recentemente na Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Itajaí-SC, que contou com mais de 30 renomados palestrantes iberoamericanos, e apresentação de mais de 500 trabalhos científicos, é uma prova inequívoca que a comunidade científica está muito motivada para dar respostas.

Tópicos como controle de qualidade, ensaios pré-clínicos e clínicos, cultivo de plantas, desafios na interação Universidade x Indústria, inúmeros cases de sucesso de plantas com potencial terapêutico, entre outros temas, foram amplamente apresentados e discutidos em três dias de intensa e produtiva interlocução envolvendo professores, estudantes, profissionais e a comunidade.

Em posição diametralmente oposta às propaladas referidas matérias, conclui-se que a biodiversidade brasileira é muito rica em plantas com poder terapêutico que poderão e deverão ser aproveitadas para a produção de novos e efetivos medicamentos naturais de origem brasileira.

Há que se buscar, porém, de forma integrada, aumentar o grau de conhecimento da população sobre plantas tóxicas a fim de contribuir para o uso seguro de plantas medicinais no tratamento de enfermidades de menor gravidade, respeitando e preservando o conhecimento tradicional e a identidade cultural dos brasileiros.

Paralelamente, o Brasil precisa buscar sua autonomia na área de fármacos e medicamentos para mudar a situação atual de mero importador destes insumos tão essenciais à nossa população. Sendo detentor da maior biodiversidade do planeta e com inúmeras comprovações científicas da flora com potencial terapêutico, o momento é de mobilização da comunidade científica e da indústria farmacêutica nacional em prol da verdade sobre esta importante área

Valdir Cechinel Filho, professor, pesquisador e pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação, Extensão e Cultura da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Presidente do 5º Simpósio Iberoamericano de Plantas Medicinais (SIPM).

Fonte: Correio Braziliense

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